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quinta-feira, 19 de maio de 2011

ZeZé Uma vida dedicada ao Handebol

Eu comecei a jogar Handebol aos 14 anos, na seleção entrei com 17 na época (muito tempo atrás, risos) infelizmente não tinha seleção Junior e fui direto para Seleção adulta, joguei de 1986 até 2004, ou seja, 19 anos na Seleção adulta de handebol indoor, e na Seleção de handebol de areia desde que iniciou em 1997, e terminei em 2009.
No Mauá eu joguei desde 1985, e infelizmente até quando optei em sair em 2007, logo após teve término da equipe, e sabemos bem que o handebol sempre teve um grande admirador chamado, "Carlos Alberto Goldstein", e sem ele tivemos uma queda considerável no handebol carioca. Handebol que hoje não tem jogos, não tem participações expressivas em Ligas nacionais, triste, mas se não tiver pessoas apaixonadas, nada vai além por aqui, e eu, por exemplo, só posso ir até onde meu dim dim dá, mas até conseguimos ser Campeãs brasileira em 2009, e não era pra ser assim.
Nossas atletas cariocas tiveram participações tanto em Seleção como em Clubes no exterior (DALY, ALESSANDRA, CHICÓRIA, VIVIANE, LUCILA, ALINE PATETA, e as de coração DARLY, DARA), ou seja, talentos o Rio sempre teve, mas e agora com o que temos por aqui em campeonatos, dá até um nó no coração.
Eu tenho um amor pelo handebol, e sou apaixonada pelo handebol de areia, eu amo estar nas areias, e embora saiba que o tempo passa, encontrei uma forma de fazer do meu lazer o esporte que amo e vejo talentos que sei que podem ir longe, ou seja, aos poucos to conseguindo passar do lado atleta para o de Treinadora e Técnica, não é fácil, sou uma atleta, quer dizer fui.
Eu sou uma pessoa realizada com os resultados que consegui no handebol, pois sempre com pouquíssima estrutura quando eu era atleta de rendimento. Afinal de contas consegui o primeiro título que deu direito a primeira participação Olímpica e com o handebol de areia Bicampeã Mundial. Pude parar bem, só não consegui mesmo uma estrutura financeira legal, uma pena, mas sei bem que, alguns plantam e outros colhem, sei que preparei uma parte do que o handebol conseguiu, mas e agora quando vejo a decadência, fico furiosa, me irrito com resultados positivos para Argentina, por exemplo, sei que a culpa não é dos Atletas, mas sim de uma estrutura, fazer do nosso handebol um esporte de respeito e vejo gozações em blogs com federações e Confederação, e acho isso uma falta do que pensar pra melhorar. Por que as pessoas não reclamam com quem pode resolver, se é que alguém pode resolver. Estamos hoje sendo motivo de um esporte sem organização, sem marketing, sem dinheiro, sem nada. E isso sim me faz pensar, como foi bom jogar em uma época que o poder tinha uma influencia pequena em tudo.
Minha equipe Z5 HANDEBOL, como o nome diz "Z" de Zezé e "5" numero que joguei na maior parte do tempo de minha carreira atlética, foi formada quando por motivos particulares sai do RJ, e retornei e o Mauá tinha acabado e eu precisava me refazer de uma digamos assim frustração, resolvi reunir amigas e simplesmente bater uma bola. Mas pelo que já tinha sido bater uma bolinha nunca foi a minha praia, e levamos a sério. Não tenho parcerias, não porque não quero, mas porque hoje, até cansei de pedir, eu e as amigas da equipe dividimos as funções e sou leiga na parte burocrática, gastei muito e não consegui nada, e resolvi bancar no que posso e as meninas ajudam no que podem e vamos nos mantendo. Jogamos por Amor, simplesmente por amar mesmo o handebol. Falam que sou uma guerreira, mas acho que apenas faço o que gosto e de coração.
Não cito nomes, mas algumas coisas aqui no Rio me entristecem pelo que já representei e hoje parece que tenho que mendigar ajuda dos que já me tiveram como símbolo.
Temos um campeonato carioca ruim, sei que temos ainda muitos talentos, mas ficam por aqui e param. Raríssimos saem daqui. O Zeba, Diogo, poxa cadê nossa estrutura? O que pode melhorar? Querer melhorar não basta, tem que fazer acontecer e não sei até onde vai o interesse.
Mudei meu foco há alguns anos para iniciação, para região carente e me adaptei, foi triste, pois sempre me vi no esporte rendimento, almejei dirigir seleção brasileira e tudo mais, mas depois repensei e me coloquei exatamente no lugar onde me puseram, continuo no mesmo lugar ralando como uma louca pra poder ter a sobrevivência, e foi através de pessoas no esporte educacional que estou conseguindo me reerguer, pois como pensar em rendimento aqui no Rio, não temos nada. Meu clube amado Mauá, acabou equipe adulta, mantém apenas categorias menores e esse ano ainda desistiu de participar do Campeonato Estadual por falta de organização da federação, ou seja, menos um clube.
O que a Confederação fala ou a federação. Eu não sei e nem pergunto, posso até ser culpada, mas vejo que enquanto alguns se matam, outros não estão nem ai. Não sou e nunca fui política, aliás, nunca foram comigo.
Admiro a proposta de caça talentos, trabalho com algumas crianças maravilhosas, tenho uma equipe encantadora de 9 aninhos e quero muito poder ter continuidade, não parar.
Mundial no Brasil? Cadê a divulgação? Será que o trabalho realizado está sendo condizente com o evento? Eu participei de 10 mundiais e acredito que nenhum deles teve o que está tendo aqui, eu pelo menos não estou vendo quase nada, pra ter idéia recebi através de um site de relacionamento um vídeo da cidade, somente isso.
Bem em relação ao Clube Mauá ele acabou na categoria adulto por falta de patrocínio, a Universo que era o Patrocínio maior, e com o falecimento do Carlinhos não apoiou mais e sem apoio não tem atletas de rendimento. Se tivéssemos como prioridade o handebol acredito que teríamos totais condições, mas o Clube não tem como prioridade, pois não vê no handebol algo que traga benefícios, e vê como gasto desnecessário, conta-se hoje com um forte patrocínio (Coca Cola), mas que consegue manter apenas as categorias de base e pagamento dos professores, isso é o que eu sei o que me dizem.
O Beach aqui no Rio está muito forte, tem equipes que com esforços treinam, se dedicam, mas enfrentam grandes dificuldades financeiras, os atletas se bancam para poder disputar, pouquíssimas equipes tem algum tipo de ajuda. Não acho que a organização seja a ideal, mas não posso negar que já foi pior. Precisamos ter mais etapas, um calendário mais rico em competições pelas equipes que temos hoje no RJ, e acredito que se tivéssemos o mínimo, seríamos uma potencia ainda maior no Handebol Nacional.
Em relação ao handebol após Pan 2007, onde fui comentarista pela Record, não vi nada que pudesse falar que tenha sido feito para a melhoria, mesmo com atletas no feminino jogando na Europa, e uma pequena parte da Seleção Nacional atuando no Brasil, sei que os Clubes querem um calendário que seja de acordo também com o deles, senão, não tem como liberar para disputa de jogos na América, e com isso dificulta nossos jogos, como o que aconteceu nos jogos que o Brasil perdeu o título para Argentina, quase morri sabendo e me deu uma vontade de gritar, estão acabando com o que estava sendo construído, mas sei que é muito maior, e que essa parte burocrática tem que ta juntinho para que o nosso resultado melhore.
Agora friamente, com o Mundial aqui no Brasil, como acreditar em chances de medalha? Como? Não basta o querer, tem que se fazer algo. Nosso problema é estrutural.
Acho que evoluímos sim, respeito o Brasil tem, tanto no handebol de quadra como no handebol de areia. Não somos vistos como aquele País de coitadinhos que íamos a Mundiais pra levar porrada, hoje nossos atletas tiveram melhoras consideráveis, mas ainda falta, falta muito. E pela brasileira que sou ACREDITO, mas temos que ter uma boa renovação, como hoje no Rio tem inúmeros Projetos de Caça talentos, mas por vezes lidamos com a falta do nosso esporte na mídia, e sem mídia, não tem investimentos de empresas, isso é fato. E isso eu sinto na pele. Lembra da Minha Amada Z5? Pois é.
Temos TUDO para melhorar com a mudança da Sede para São Paulo, já é um passo grande, ter também um Centro de treinamento, estamos evoluindo, isso eu também acredito, não sou uma pessoa que esta aqui pra falar mal, falo o que penso e acho que ficar só detonando não chega a lugar nenhum.
Eu joguei muito tempo como Profissional, mas essa palavra Profissional não foi muito ao pé da letra pra mim não, mas um semi profissional, iniciei e terminei jogando por AMOR. Hoje se me perguntarem se me arrependo digo SIM. Pois não tive nenhuma diferenciação por ter ficado ou não aqui no Brasil para vestir a camisa em nossa primeira participação Olímpica (SIDNEY 2000), mas isso já é outra conversa.
Participo da CARAVANA DO ESPORTE, um Projeto da ESPN que me faz mudar alguns conceitos do esporte, até fiz uma especialização em Educação Física Escolar em função dessa escolha de conhecer esse mundo maravilhoso, e através dele vi na criança algo muito maior que vivi na vida esportiva, a Caravana do esporte e um programa da ESPN que leva a algumas Cidades do Brasil com selo da UNICEF um grupo de professores para capacitar outros profissionais e juntamente com atletas voluntários desenvolvem um trabalho lindo que sou apaixonada, este programa geralmente é transmitido mensalmente.
Vejo o esporte com vários significados, e talvez o maior deles seja ver que posso mudar uma parte, dar prazer com um simples brinquedo que vivi durante 25 anos, uma bola, um gol, amar o handebol como algo capaz de mudar, de fazer um cidadão, de como já senti na pele tirar crianças de um lado tão escuro e fazê-las ver que o auge de um atleta talvez seja estar em um campo, num barro, em uma tribo e sentir a vibração tão diferente do que é fazer um gol, já fiz gols olímpicos, já tive títulos diversos, acho que todos, já fui ídolo, mas sempre serei a Zezé, e isso talvez possa fazer a diferença para eu tratar de todos os assuntos aqui perguntados sem receio, tenho apenas algumas tristezas com o handebol, mas digamos assim 90% foram e são alegrias, pois o sentido que dou a minha vida é feito da profissão que tenho, das amizades feitas que são pra sempre.
O parar de jogar quando se é atleta de rendimento é uma das piores partes da vida, por isso hoje eu faço meu lazer que é jogar handebol de areia.
Se me perguntarem de onde tiro tanta força. Eu digo do amor por esse esporte que me deu tanto e hoje me sinto na obrigação de fazer algo por ele, de fazer algumas Dalys para que eu possa me orgulhar, de tirar algumas crianças de um lado ruim, de levar minha vivencia pra quem quiser.
Recordações de alguns momentos de vitória como pan de Winnipeg, dos títulos mundiais, da participação Olímpica e também de momentos de dificuldades como o de 45 dias na Rússia sem rumo, sem comida e sem passagem de volta pra casa, por querer que o handebol tivesse um lugar ao sol.
Momentos de perda como a do Carlinhos, que com isso deixou de ter um lutador do Handebol brasileiro, e com certeza as grandes perdas no handebol carioca.
Eu já pensei em largar tudo e ganhar dinheiro, mas ainda to conseguindo ser feliz dessa forma.
Fazendo o que simplesmente amo.

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